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SÃO PAULO – O ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine foi condenado nesta quarta-feira a 11 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de receber R$ 3 milhões em propina da Odebrecht em troca de favorecer a empresa em contratos da Petrobras.

Bendine está preso desde 27 de julho do ano passado, quando a Polícia Federal deflagrou a 42ª fase da Operação Lava-Jato, batizada de Cobra.

Na mesma sentença, o juiz Sergio Moro também condenou pelos mesmos crimes o marqueteiro André Gustavo Vieira, acusado de ser o operador financeiro de Bendine. Bendine e André Gustavo foram absolvidos por Moro do crime de organização criminosa.

O magistrado considerou que a culpabilidade de Bendine aumenta nesse processo, já que ele assumiu a Petrobras em meio a um escândalo de corrupção e havia expectativa de que solucionasse o problema.

“O último comportamento que dele (Bendine) se esperava era corromper-se, colocando em risco mais uma vez a reputação da empresa”, escreveu Moro na sentença.

O ex-presidente do Banco do Brasil sempre negou as acusações e já se disse vítima de perseguição neste processo.

MARQUETEIRO RECEBE BENEFÍCIO POR CONFISSÃO

Por confessar crimes e confirmar as acusações contra Bendine, André Gustavo teve a pena pena reduzida para seis anos e meio de prisão. Por ter colaborado com a Justiça, segundo seu advogado, o criminalista José Diniz, o marqueteiro teve a prisão revogada e poderá responder o processo em liberdade. Na sentença, Moro reconheceu a confissão do marqueteiro e deu a ele o benefício de cumprir a pena em regime semiaberto.

Também réus na ação, o empresário Marcelo Odebrecht e o executivo Fernando Reis foram condenados pelos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Já o doleiro Alvaro Novis também foi sentenciado por lavagem de dinheiro.

Como fecharam acordo de delação premiada, a condenação não muda a situação de Odebrecht, Reis e de Novis. O doleiro e Odebrecht cumprem prisão domiciliar. O empreiteiro está sendo monitorado por meio de tornozeleira eletrônica em sua mansão em São Paulo.

Moro ainda absolveu Antônio Carlos da Silva Junior, irmão do marqueteiro André Gustavo Vieira, que chegou a ser preso pela Lava-Jato sob a acusação de que teria participado da intermediação dos repasses de propina ao ex-presidente da estatal.

ENTENDA O CASO

Na denúncia contra Bendine, o Ministério Público Federal (MPF) o acusa de receber R$ 3 milhões de propina da Odebrecht. O dinheiro seria referente a 1% de um refinanciamento de R$ 1, 7 bilhão do Banco do Brasil para a Odebrecht Agroindustrial. O primeiro pedido de repasse foi de R$ 17 milhões, mas após negociações o valor foi reduzido.

Marcelo Odebrecht e o ex-executivo Fernando Reis foram ouvidos no processo e confirmaram o repasse a Bendine e comprovaram que houve encontros deles com o ex-presidente da Petrobras fora da agenda oficial e em “locais escondidos” — duas num escritório de advocacia e uma na casa do marqueteiro, entre fevereiro e maio de 2015, em Brasília.

Na sentença, Moro afirmou que “não é o comportamento esperado de um dirigente de estatal probo, encontrar-se sozinho com executivos de empresas fornecedoras, fora da agenda oficial e fora do local de trabalho”.

Marcelo disse que só aceitou pagar a propina após Bendine asssumir a presidência da Petrobras, já que temia que a empreiteira fosse prejudicada em contratos com a estatal. Segundo o empreiteiro, o pagamento foi feito por meio do departamento de propina da empresa, o chamado setor de Operações Estruturadas. Relatou ainda que André Gustavo fez a intermediação.

André Gustavo juntou no processo pagamentos que fez de despesas de US$ 10 mil de uma viagem de Bendine e de seus familiares a Nova York. Ele contou ainda que mantinha uma conta de propina com o ex-presidente da Petrobras e relatou ter feito entregas de dinheiro vivo a Bendine em São Paulo.

O ex-presidente da Petrobras alegou a Moro que, devolveu o dinheiro na volta da viagem, quando entregou R$ 37 mil em espécie a André Gustavo numa livraria próxima a um prédio da Petrobras, no Rio. Ele disse que foi acompanhado por um segurança da estatal até a porta do estabelecimento. Mas negou ter provas da devolução do dinheiro.

Também ouvido no processo, o doleiro Alvaro Novis confirmou ter feito três pagamentos num flat da rua Sampaio Viana 180, em São Paulo, para o codinome cobra, atribuído a Bendine. Segundo Novis, os registros das operações foram feitas com o seu apelido Paulistinha e constam no sistema Drousys, do departamento de propina.

Em sua última fala no processo no final de janeiro, Bendine se disse vítima de “acusações falsas” e de um “engano”.

— Jamais solicitei ou autorizei qualquer tipo de vantagem indevida — afirmou o ex-presidente da estatal, ressaltando que suas gestões à frente da empresa sempre primaram pela transparência. Ele disse que não existe nenhuma prova no processo que comprove a acusação.

— Eu sou inocente. Vou reafirmar isso até o fim da minha vida — concluiu.

Fonte: https://oglobo.globo.com/

Imagem: Givaldo Barbosa/Agência O GLOBO

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